
Esta review contém spoilers.
Esse é um livro que eu queria ler há algum tempo, ganhador de diversos prêmios tem uma premissa interessante e atemporal: E se fosse possível aumentar a inteligência de uma pessoa?
No livro, Charlie Gordon, um homem na casa dos 30 anos passa por uma cirurgia revolucionária que promete aumentar sua inteligência. O livro apresenta a história pelo olhar de Charlie, que descreve seu progresso em relatórios quase diários.
No começo, vemos um Charles simples que acredita ter uma vida feliz e com vários amigos. Os relatórios tem diversos erros de português e o pensamento de Charlie se assemelha ao de uma criança, vivendo no presente e com poucas memórias ou pensamentos sobre o passado ou mesmo o futuro.
Conforme sua inteligência aumenta, as notas se tornam cada vez mais claras e memórias reprimidas de uma infância cheia de traumas vão surgindo. Ao mesmo tempo, ele toma a consciência de que a vida feliz dele só era assim por sua incapacidade de perceber a crueldade das pessoas “normais” com uma pessoa com deficiência intelectual como ele.
A inteligência de Charlie passa a superar e muito a das outras pessoas, mas as reações emocinais dele ainda são bastante imaturas. Ele tenta racionalizar muitas coisas mas, tem acessos de raiva e atitudes socialmente inapropriadas. Existe uma dualidade entre a razão e a emoção.
“Quanto mais inteligente você se tornar, mais problemas você terá, Charlie. Seu crescimento intelectual vai ultrapassar seu crescimento emocional.”
Com o tempo, ele passa a se afastar cada vez mais das pessoas. De certo modo, os outros passam a ser para ele, o que ele antes da cirurgia.
“Eu não sei o que é pior: não saber o que você é e ser feliz, ou se tornar o que você sempre quis ser, e se sentir sozinho.”
Esse é um livro bem reflexivo sobre a condição humana. Charlie só quer ser reconhecido pelos demais mas, isso nunca acontece de verdade. Antes por sua deficiência e depois por sua extrema inteligência, ele sempre se sente excluído.
“Eu sou um ser humano, uma pessoa, com pais e memórias e história, e eu era antes de você me levarem para aquela sala de cirurgia!”
No auge de sua capacidade mental, Charlie considera todos uma farsa, já que ele sabe mais do que aqueles que se consideram especialistas em diversas áreas.
“Como eles me parecem diferentes agora. E quão tolo fui de algum dia pensar que professores eram gigantes intelectuais. Eles são pessoas, e sentem medo de que o resto do mundo descubra.”
Durante um congresso ele acaba fugindo com Algernon, um rato que passou pela mesma cirurgia de Charlie.
Algernon passa a ter comportamentos erráticos e Charlie sabia que o que aconteceu com o ratinho poderia acontecer com ele. Existia a chance da cirurgia ser temporária e Algernon é uma prova disso. Charlie então passa a fazer pazes com o passado e busca deixar sua contribuição para o mundo, aprendendo ao máximo sobre a evolução de sua condição para poder deixar um legado antes que sua mente volte a ser o que era ou pior.
O livro é cheio de boas citações e bastante atual apesar de escrito na década de 60.
Achei um livro bem legal, e dá para se identificar com muitas coisas escritas nele. É uma leitura bem rápida que vale a pena. Está disponível para quem assina Amazon Prime.