Resenha/Resumo – O Conto de Aia

O conto da aia
Gêneros: ,
Editora:
Page Count: 368
Goodreads Rating: 5
O romance distópico O conto da aia, de Margaret Atwood, se passa num futuro muito próximo e tem como cenário uma república onde não existem mais jornais, revistas, livros nem filmes. As universidades foram extintas. Também já não há advogados, porque ninguém tem direito a defesa. Os cidadãos considerados criminosos são fuzilados e pendurados mortos no Muro, em praça pública, para servir de exemplo enquanto seus corpos apodrecem à vista de todos. Para merecer esse…

Esta review contém spoilers.

Esse é um livro que não é tão fácil assim. Talvez por ter lido em inglês mas, ele demora para engatar, a narradora é bem confusa em seus relatos, misturando presente e passado e presente de novo e se perdendo em devaneios. Talvez seja toda a situação em que ela se encontra.

Mas, vamos por partes.

A história ocorre em algum momento no futuro em que a natalidade é tão baixa que depois da derrubada do sistema da época, é adotado um regime de cunho religioso estratificado em que o direito e a independência das mulheres são retirados.

Para garantir a continuidade da espécie, por assim dizer, algumas dessas mulheres são escolhidas para servirem de Aias (Handmaids no original). E, nesse caso, não é a empregada não. Elas foram retiradas de seus lares ou capturadas e doutrinadas, utilizando inclusive remédios, para serem submissas e servirem para apenas um propósito: a reprodução. A justificativa dada é de fundo religioso: “Eis aqui minha serva Bila, coabita com ela, para que dê à luz sobre meus joelhos, e eu assim receba filhos por ela” (Gênesis 30:1:3). Confesso que nunca li a Bíblia inteira, mas no caso a esposa era estéril e propôs que o marido tivesse um filho com a serva deles e esses filhos fossem criados como dela.

Então, basicamente, nossa personagem principal Offred (“Do Fred” em português) assume o papel de Bila nessa história. Ela mora na casa de um homem chamado Fred, referido na história como Comandante e de sua mulher Serena Joy, uma ex-cantora que é referida na história como Esposa. Além disso, existem pelo menos duas empregadas ou servas, (já que elas não saem de casa), classificadas como Marthas, mulheres que não podem ter filhos e o motorista, Nick.

O livro acompanha o dia a dia de Offred enquanto ela relembra os fatos que a levaram à situação em que se encontra.

Na história, Offred parece sofrer de dissociação, seus pensamentos são confusos, a noção do tempo incerta, e é necessário construir a história do passado em paralelo ao presente. Durante essas idas e vindas, descobrimos que houve um golpe em que um grupo extremista de cunho religioso invadiu e matou todas as pessoas na Casa Branca e determinaram a remoção dos direitos das mulheres. Em algum momento, ou um desastre nuclear ou biológico, o que parece ser uma referência à Guerra Fria, causou a redução da fertilidade e, para garantir a reprodução, algumas mulheres foram escolhidas para servirem de Aias.

Inicialmente, foram escolhidas mulheres que já tiveram filhos, um bom indício de fertilidade, e cujo casamento fosse inválido segundo os preceitos religiosos. Descobrimos então que Offred era casada com um homem separado chamado Luke e que teve uma filhinha com ele. Enquanto tentavam atravessar a fronteira acabaram sendo capturados por soldados do regime. A situação dois no presente é incerta e Luke provavelmente está morto.

Offred (o nome verdadeiro dela nunca é revelado) de tempos em tempos deve realizar uma “cerimônia” junto com o Comandante e a Esposa, visando a reprodução. Ela é conduzida como uma marionete ou um fantoche pela Esposa enquanto o Comandante pratica o ato. Bem bizarro e não faz muito sentido, já que naquela época já existia inseminação artificial, a menos que fosse pecado, vai saber.

Mas voltando à história, além da reprodução, outra função de Offred é fazer as compras da casa, sempre acompanhada de outra Aia. Durante essas excursões, descobrimos a existência de outros elementos da hierarquia, os Guardiões responsáveis por manter a ordem e controlar o acesso à pequena vila e os Olhos que parecem ser um tipo de agência de espionagem a lá 1984. Além disso, Offred descobre que sua companheira de compras Ofglen faz parte de uma rede de resistência chamada Mayday e pede para que Offred colete informações para elas.

Isso coincide com a necessidade do Comandante em interagir como antigamente e propor a Offred que eles se encontrem escondidos. Offred não tem outra opção a não ser aceitar. Inicialmente, os encontros não são de cunho sexual, parece que o Comandante deseja criar um laço, talvez de amizade ou talvez seja apenas um capricho dele.

Por causa do sistema, se as Aias não forem capazes de reproduzir depois um certo tempo, elas vão para outras casas e quando o tempo fértil delas termina, são enviadas para locais chamados Colônias, similar aos campos de trabalhos forçados.

Ser aia gera diversos sentimentos nos outros membros da hierarquia de repulsa e desprezo a admiração e inveja. Ter um filho, representa status, mas a Aia parece ganhar esse respeito somente quando engravida. Em um trecho, uma das Aias grávida faz compras, existe um sentimento coletivo de inveja e admiração por parte das outras. O parto então, parece uma histeria coletiva com as Aias entrando em uma espécie de transe empático, deve ter um nome na psicologia para isso mas, é bem perturbador.

Se a criança nascer saudável ela é dada para a Esposa, aumentando seu status entre os demais. Como o tempo de Offred na casa do Comandante estava chegando ao fim, Serena Joy decide arranjar outra maneira para que ela engravide. Serena propõe então que Offred se encontre às escondidas com o motorista Nick. É perceptível desde o começo que existe uma tensão sexual entre os dois, e depois da primeira vez juntos, Offred não consegue se satisfazer e se torna mais inconsequente continuando os encontros com Nick, sem Serena saber. Além disso, ela acaba dividindo uma quantidade enorme de informações com ele, inclusive a existência da organização rebelde Mayday.

No final, Offred acaba sendo levada pelos Olhos e fica implícito que Nick organizou essa extração, fica a dúvida se ele era um agente infiltrado dos Olhos ou se fazia parte do grupo Mayday. Além disso, existe a suspeita de que ela estivesse grávida, o que poderia ser a força que leva Nick a tomar essa atitude.

No capítulo final, em um simpósio muitos anos no futuro, fugindo totalmente da narrativa, é revelado que a história de Offred, na verdade, é a transcrição de gravações que ela teria feito depois de escapar da casa, o que indicaria que ela se juntou ao grupo Mayday. 

O interessante de histórias distópicas é que é possível perceber as influências recebidas e muitas vezes estão relacionadas ao contexto histórico. No Conto de Aia, eu percebi uma influência bem forte da “Revolução Cultural Iraniana”, basta procurar imagens no Google para ver o retrocesso que as mulheres daquele país sofreram por causa do extremismo religioso.

Aliás se quiserem saber um pouco mais tem uma graphic novel bem legal chamada Persépolis, que conta a história autobiográfica da autora que viu essa transição ocorrer quando era criança. Confesso que antes de ler essa novel eu nem sabia dessa tal “revolução”.

A própria autora já afirmou que a história dela é baseada fortemente em eventos que aconteceram em algum momento na história. O livro é como um grande: E se o que aconteceu naqueles lugares acontecesse também nos EUA? Considerando as noticias vindas sobre o Afeganistão, esse livro se torna ainda mais atual. Mas, aqui a autora deixa uma mensagem de esperança, já que no futuro o regime foi derrubado, ao contrário de muitas distopias.

Também existe uma série, mas ainda não assisti. Ganhou vários prêmios, incluside. Deixo o trailer para quem tiver interesse, peguei várias cenas do livro nele:

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Rate this review:

Translate »