Contos

Os amantes

Poderia ser uma noite de luar como outra qualquer mas, a lua tão cheia, tão brilhante em um céu tão estrelado, parecendo uma pintura surrealista, davam a sensação de que esta seria uma noite especial. A névoa baixa completava ainda mais essa imagem etérea.

O parque parecia vazio, exceto por uma pessoa. Um senhor, em um banco, sentando, parado, olhando. Olhando. Ele já era conhecido. Vinha todos os dias e sentava naquele mesmo local. E ficava horas a fio olhando. Olhando a bela moça de braços estendidos e olhar suplicante a espera do seu amante.

Era uma estátua realmente impressionante, em estilo clássico, tamanho real e um realismo na expressão…Ah, a expressão daquela moça, qual homem não correria para seus braços, para acalenta-lá. Mas, era apenas uma estátua, e as pessoas, na pressa do dia a dia, iam e vinham, passavam sem ao menos perceber que mesmo com o passar dos anos, ela permanera imaculada, como no primeiro dia que a colocaram lá.

Todos menos aquele senhor. Alguns diziam que era ele o escultor daquela musa solitária chamada quase ironicamente de “Os amantes”. Quando a tarde caia ele ia embora, cabeça baixa, decepcionado. Mas hoje, nessa noite tão clara, tão misteriosa, ele ficou. Havia um sorriso em seu rosto, um olhar com um brilho que não calava, encarando profundamente a estátua à sua frente. Há quanto tempo ele fazia isso? Anos até onde se sabia…

Um guarda passou, o parque fecharia em breve. O senhor acenou indicando que estaria de partida. A névoa ainda mais densa com a madrugada que avançava. Meia noite, não se via mais ninguém, apenas o som dos animais noturnos e o farfalhar das folhas.

O guarda voltava ao posto para mais uma noite mas, não conseguia tirar a sensação de estranhamento daquele parque que normalmente lhe era tão familiar. A imagem do senhor veio a mente. O que levaria uma pessoa a fazer isso por tantos anos? Um impulso o fez voltar a estátua.

O senhor, ele realmente estava no mesmo lugar. O guarda chamou, sem resposta, tocou, estava frio, muito frio, mas um sorriso tão terno no rosto. “Finalmente” ele murmurou olhando a estátua.

Silêncio, completo silêncio, a névoa passando como uma ventania pelo guarda, e o aroma de flores se espalhando pelo ar. O guarda virou instintivamente para a estátua. Os amantes estavam finalmente reunidos. Um jovem aninhado nos braços de sua amante. Juntos para sempre.

O guarda virou para falar com o senhor, mas não havia nada nem ninguém naquele banco. Seria tudo uma ilusão? Talvez o senhor nunca tenha estado lá ou será que ele sempre esteve… 

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